O Buraco Negro - A Negação de si mesmo

Eu ainda me choco com essa realidade nossa de cada dia, estamos cada vez mais virtualizados, algo impalpável, imagem holográfica, cada vez mais me deparo com a doença do povo, tudo transitando numa outra dimensão. Viva a Física Quântica quando diz que cada um cria sua própria realidade, e estamos chegandonuma fase "pré-amebassíntese". Talvez seja eu nascida numa família com história psiquiátrica, convivendocomdor emocional que me levou para a área de saúde, junto sempre houve uma compreensão amorosa na relação com minha mãe bipolar, que me trouxe compaixão, apesar das dificuldades em se conviver com uma pessoa doente psico-enocional. Cedo ela me propiciou a psicoterapia, pois, bem consciente de sua doença,não gostaria de que eu pudesse passar pelo que ela passava.

Talvez venha daí o olhar que foi atrás de quem eu era de verdade, diante das rejeições na infância, separação de meus pais e padrasto. Em algum momento eu fiquei de lado,não opinei, me submeti por necessidade, me revoltei  por dor e depois compreendi por amor. Foi um puta aprendizado ver amor onde existia dor, ver felicidade onde existia doença, crescer e perceber o grau de dependência emocional e a morte quase certa quando o amor se vai.  O ter saído em busca de mim era minha única saída, me achar, sair do limbo da identidade paralela, me soltar de toda aquela dor,mas principalmente encontrar como fazer por mim, como investir em mim. Como enfermeira, a projeçãoera ser a Madre Teresa e ter a admiração de quem eu ajudava a curar, consolava. Acho que mais aprendi comos doentes do que ensinei, aqueles anos de formação e mais alguns de trabalho e como professora me mostraram que eu queria mais do que a prática ou a orientação desta.

Eu queria fazer florescera chama da vida naqueles que vagam sem lutar pelos seus direitos e se comprometerem com a vida.Durante anos me trablhei,meditei, participei devivências psicoterapêuticas que me resgatam de dentro do buraco onde me escondia, nasci de novo e fui me reconstruindo, a Sá sem laços, com uma história no passado e um futuro pra modificar.

Não quis fazer Psicologia, não era minha atenção ser técnica, muito menos uma Maga-Bruxa Cosmopolita sem cabelo verde e verruga no nariz. Minha terapeuta dizia que eu estava querendo fazer com os outros um pouco do que ganhei nos trabalhos de autoconhecimento, sem místiquismo, olho no olho, amorosidade no ouvido e coração, responsabilidade com apalavra proferida e um prazer enorme e sacudir esse povo. Hoje existe uma doença social, a falta de amor, a solidão, a dor de anulação da identidade, seja por pais ausentes, inoperante afetivamente, seja pelo Estado que ignora o cidadão, seja pela descrença de princípios e o indivíduo vaga à procura de outros pois não se vê, não se sente de verdade, ignora seus desejos,suas carências, o medo é cortina transparente que o impede de seguir em busca de si mesmo.

Sobra uma cortina de fumaça que lhe cria oportunidades infinitas em ser quem não é. Mais fácil e cômodo encher Orkut com trocentos amigos desconhecidos, abrir comunidades onde naquele espaço virtual, ele é DONO, ele manda, ele tem nome (pseudônimo).Por trás do manto invisível ele fica corajoso, audaz, sedutor, sarcástico, aproveitador, dá golpes, dá uma de esperto, "se vinga" de toda sua inoperância pessoal e real. Por trás desse manto virtual, dos encontros fortuitos sexuais, da convivência com a doença psico-emocional não identificada e muito menos diagnostica, vive um ser humano triste, inadaptado a essa dura realidade, a esse descaso da saúde, a essa pobreza da ilusão do ser igual ao protótipo que a mídia cobra para vender idéias que matam a identidade do ser humano.

É tudo tão desconectado, um bando de novas técnicas exploradas por quaisquer leigos falastrões inventando modismos tais como Crianças Indigo, O Segredo, a prosopopéia de 2012, e o povo vai atrás do gênio da lâmpada, a fazer "milagres"  auspiciosos financeiramente pra eles. Hoje em dia todo mundo é terapeuta, formação de 72 horas, conhecimento e  pra que saber como usar este poder? Alguém vai prender? Difamar? Mais do que Congresso e Senado e continuam todos lá gordos às nossas custas.

Sobram que dizem que te ajudam, e te empurram do precipício dizendo que você vai voar, basta acreditar e pensar positivo, ofertam drogas para minimizar o caos, o abandono, enriquecem ilicitamente roubando dos cofres públicos (eita país rico esse!). Junto ficam os acomodados, os que se garantem na sobrevivência de derrubarem seus oponentes, de pança cheia de se acharem o máximo, aparentemente dentro do contexto social, diploma universitário, chefe de comunidade, cafetões, traficantes de crianças, dono da boca de fumo, dos pontos de jogo do bicho, donos de terreiros... Todos comprando "poder" como se comprassem um bilhete no barco salva-vidas do Titanic.

E o mundo continua caminhando e mais corações doentes com hipertensão (violência urbana, dívidas, desemprego), mais desinteresse, desamor, desunião, menos verdades ditas olho no olho, mais silêncios de isenção(medo de comprometimento, descaso com o aprender, orgulho de perder razão que o sustenta), muita depressão oculta, muito câncer in modos-operandi e, absurdamente vejo pessoas carregando a dor, o medo, a angústia, o pânico, e se submetendo a esse mundo "ameba de ser" sem se mover e mudar o rumo dentro de si próprio. Qualquer crise, doença, morte, fim, cria um vazio, um espaço para despertar esse ser humano tomar consciência de si mesmo. A depressão é um grande exercíciode se entrar em contato com o seu Eu mais íntimo, o resgate depende de cada um, viver ou morrerem vida. Nada mais determinante quando  o homem supera sua dor,se cura e reconstrói sua vida frente a novos valores.